sábado, 10 de abril de 2010

El viaje a Cuba 2




Ao longo dos anos 70 e 80, a esquerda brasileira jamais abordou a questão da homofobia em Cuba, visto que isto sequer era uma questão para os PCs e seus derivados político-partidários. Assim, quando foi lançado no Brasil, o filme Morango e Chocolate causou impacto. Foi talvez o primeiro contato de milhares de brasileiros com o cinema cubano e com a repressão aos gays na ilha de Fidel. O diretor, Tomás Gutierrez Álea, era já consagrado em Cuba, talvez o principal nome de um país que, principalmente depois da Revolução, prezou a sétima arte e nunca deixou de ter uma produção consistente e constante desde então. Morango e Chocolate, co-dirigido por Juan Carlos Tabío (essa colaboração se estenderia ao filme Guantanamera, de 1995), aborda a conturbada relação entre um jovem universitário, militante político, e um homem mais velho, homossexual e ligado ao meio das artes (o excelente Jorge Perugorría). O filme é de 1993, época do chamado 'período especial', eufemismo com o qual o governo cubano denominou a crise econômica avassaladora que se abateu sobre a ilha após o fim da URSS, ao passo em que a ação narrada se dá no ano de 1979, época áurea do socialismo cubano movido a dinheiro soviético. O contraste entre o refinamento cultural do crítico de arte e a ignorância preenchida de toscos preconceitos doutrinários é impressionante, resultando numa denúncia cruel da pobreza intelectual da revolução cubana. É de se pensar que um filme dessa natureza somente chegou ao público porque seu diretor tinha larga história no cinema cubano - Memórias do subdesenvolvimento é de 1968, mas sua produção retrocede ao final dos anos 40) - e talvez também porque então eram precisas válvulas de escape em meio à fome e ao caos. Os dois personagens se encontram na Sorveteria Copelia, um marco histórico na cidade de Havana. Durante o pior momento da crise, as filas - que ainda hoje estão lá, mas são pequenas - eram imensas, visto que a sobremesa se transformara em prato principal.
Outro filme que projetou a questão da homofobia em Cuba foi Antes que anoiteça, de Julian Schnabel (2000). O filme é irregular e muitas vezes se perde em seu intento de adaptar para o cinema a auto-biografia do poeta Reynaldo Arenas, homossexual duramente perseguido ao longo dos anos 70, magnificamente interpretado por Javier Bardem.
E hoje, como andam as coisas em Cuba? Definitivamente, Cuba não é mais a mesma, sobretudo por causa da atuação política e intelectual de Mariela Castro, filha de Raúl Castro e a mais importante difusora das políticas de gênero na ilha. Por certo, os homossexuais da alta hierarquia partidária e governamental não são assumidos, como na maior parte do mundo liberal. No entanto, contrariamente à maior parte do mundo liberal, a televisão estatal cubana aborda e enfrenta a homofobia de maneira clara e explícita, sem pudores e meias palavras, com direito a beijo na boca em horário nobre.
Num momento belo e dramático de Morango e Chocolate, quando Diego (Perugorría) explode em choro e conta a Davi (Vladimir Cruz) que vai fugir do regime, para nunca mais poder voltar, ele diz algo mais ou menos assim: "tenho mais de trinta anos, não aguento mais adiar minha vida. Quando chegará o dia em que os homossexuais serão tratados com dignidade neste país? Nunca chegará o dia!" Se este dia ainda não chegou, ele está cada vez mais próximo de chegar a Cuba, certamente muito mais próximo lá do que na maioria das democracias ocidentais...

2 comentários:

  1. Oi André. Pues creo que sí, que ya comenzaron a escribir "algo" sobre Cuba. Creo que han atrapado ustedes cuestiones esenciales de mi isla. Ese pedazo de tierra larga, estrecha y contradictoria a la que deseo regresar. Como bien dices, Cuba es todo eso; es más, y también menos.
    En internet podrás encontrar varias definiciones de lo que es un cubano. Aquí, en estos comentarios, está Cuba. Te agradezco tu verbo meridiano. Me reconozco en él, de alguna manera.
    Más allá de todo el polvo que levanta la intención de ir a Cuba, ahí está Cuba: Cerrada y ABIERTA. Tú has visto allí lo mismo que todos los que la visitan, más la diferencia radica en dónde pones el énfasis. Es como un caleidoscopio: el movimientos de las lentes te va cambiando el color con que ves el mundo. La realidad es una sóla, en toda su omplejidad y multiplicidad; mas las interpretaciones las pone el observador.
    Sencillamente, el placer es mío.
    Un abrazo,
    Alexander

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  2. Caro amigo,
    si algo he aprendido de Cuba, mucho debo a tí y a otros cubanos más!

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